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Comportamentos Indesejados VS Comportamentos Anormais

Comportamentos indesejados são muito incidentes em equinos domésticos.  Consistem em reações e comportamentos exibidos pelos cavalos que dificultam o manejo e a interação. Alguns exemplos de comportamentos indesejados são: cavalos que ameaçam morder as pessoas, reatividade durante o casqueamento/ferrageamento, cavalos que são difíceis de conduzir no cabresto. Essas e tantas outras situações do cotidiano são as que mais tem o potencial de influenciar no comportamento e bem-estar dos equinos. Normalmente, esses comportamentos indesejados são tão comuns que as pessoas acabam achando que são normais. No entanto, deveria ser totalmente o oposto. Isso porque são comportamentos que refletem na saúde e bem-estar dos animais, mas também influenciam a dinâmica da interação com o animal e a segurança das pessoas a sua volta (McGreevy e McLean, 2007).

  Muitos cavalos jovens são vendidos e/ou descartados por apresentarem comportamentos indesejáveis que os tornam muito difíceis ou perigosos de serem manejados (Ödberg e Bouissou, 1999). Na Europa e EUA por exemplo os índices de descarte tendo como causa a alta incidência de comportamentos indesejáveis é de mais de ⅓ de cavalos jovens (antes de completarem 8 anos de vida) (Paolo e Baragli, 2016).  Também temos um alto índice de acidentes com pessoas. A equitação é considerada um esporte de alto risco, causando mais acidentes do que esportes radicais como o motociclismo e esqui. Dentre os problemas mais comuns, temos as fraturas, injúrias na cabeça e pelve; além de coices, mordidas e esmagamento de membros por pisoteio ou injúrias abdominais (Meredith, Ekman e Brolin, 2019).

  Mas, porque tantos comportamentos indesejáveis e problemas ocorrem? Bem. As causas são variadas e, dependendo do lugar podem se expressar de diferentes formas. Mas, de forma geral, segundo um levantamento realizado pela Associação de Bem-Estar Animal na Europa (Eurogroup, 2015), as principais causas da incidência de comportamentos indesejáveis nos cavalos são: 1) ambiente de criação inadequado; 2) falta de conhecimento; 3) negligências no manejo e treinamento.

Essa situação toda evidencia o quão imprescindível é conhecer sobre etologia e bem-estar dos equinos. A falta de conhecimento e as negligências diárias são os fatores que mais acometem e influenciam na criação e bem-estar dos equinos. Esse conhecimento deve ser aliado a prática. A equideocultura necessita de profissionais qualificados para compreender a raiz dos problemas, pessoas que saibam lidar e melhorar as condições e não simplesmente aceitá-las como sendo comuns.


Comportamentos anormais são estereotipias que são comumente conhecidos como vícios de estábulo/ vícios de cocheira. Existem inúmeras expressões estereotipadas e todas elas têm em comum as seguintes características: são movimentos repetitivos e sem função aparente.  Existe a hipótese de que comportamentos anormais também podem ser aprendidos por imitação através da observação, especulando-se ainda que a predisposição pela imitação é maior entre cavalos que possuem certa familiaridade (Wickens e Brooks; 2020).


As estereotipias podem ser classificadas como:


1) Anomalias somáticas: Cavar, chutar a porta da baia, andar excessivamente na baia, tique do urso, balançar a cabeça para baixo e para cima.


2)  Reações anormais: agressividade excessiva com outros animais ou pessoas; auto-mutilação.


3) Comportamento ingestivo-oral anormal:  coprogafia (comer fezes), aerofagia (engolir ar), lignofagia (comer madeira), comer areia/terra, polidipsia nervosa (ingestão excessiva de água).

 

As causas que levam a incidência de estereotipias são várias. Normalmente, esses vícios ocorrem em cavalos criados em sistemas intensivos (cocheiras) e que são deprivados de um padrão normal de movimentação, alimentação e interação social. A ociosidade e a frustração são os principais aspectos que facilitam uma alta incidência de estereotipias.  Além disso, as estereotipias parecem ter uma forte influência genética, já que filhos de pais com estereotipias tem maiores chances de também apresentá-las. Determinadas raças de cavalos também têm mais propensão em exibir estereotipias, uma influência tanto genética quanto da maneira como esses animais são criados. Cavalos da raça puro sangue inglês são 3x mais propensos a exibir estereotipias do que cavalos da raça quarto de milha e 5x mais do que cavalos da raça puro sangue árabe (Waran, 2003; Wickens e Brooks, 2020).

  A incidência de comportamentos anormais também é altamente afetada pela forma como os potros são desmamados. O desmame é um período crítico na vida dos cavalos, muitas mudanças ocorrem nesse momento, tais como a separação da mãe e alterações na dieta e ambiente. Desmames abruptos com o isolamento do potro em baias leva a uma alta chance de desenvolvimento de comportamentos anormais, principalmente do segmento ingestivo-oral. Segundo Visser et al (2008), a estabulação de potros em grupos reduziu significativamente as estereotipias e não causou conflitos nem disputas entre os animais.

Mais recentemente as estereotipias passaram a ser investigadas como estratégias de enfrentamento utilizada por alguns animais para lidar melhor com situações adversas de seu ambiente. A hipótese é de que os animais procuram se livrar do estresse através desses vícios, que por sua vez, acabam agindo como uma recompensa (sistema dopaminérgico). Ou seja, o ato de desempenhar o comportamento repetitivo anormal traz, mesmo que momentaneamente, uma sensação de prazer ao animal.

Portanto, a hipótese é de que cavalos que apresentam comportamentos anormais em condições de criação extremamente restritivas devem estar em melhores estados de bem-estar do que cavalos criados nas mesmas condições, mas que se encontram depressivos e apáticos. As estereotipias hoje já são bem conhecidas, seu reconhecimento é relativamente simples, pois seus padrões são repetitivos e sem causa aparente. No entanto, estados depressivos em animais são mais difíceis de detectar, pois seus sintomas são silenciosos. Estudos recentes (Fureix, Jego, Henry, Lansade e Hausberger, 2012) vêm demonstrando que animais com síndromes depressivas possuem diversas alterações fisiológicas e comportamentais, muitas vezes superiores as demonstradas por cavalos que apresentam estereotipias. Esses animais adotam posturas diferentes de um animal em descanso, com excesso de sobrepeso nos membros dianteiros e curvatura irregular do pescoço; além disso são animais pouco responsivos aos estímulos; permanecem muito tempo parados com o olhar fixo, mas sem demonstrar atenção para o que estão olhando. Além disso os níveis de cortisol são extremamente baixos.


REFERÊNCIAS



HOTHERSALL, B.; CASEY, R.. Undesired behaviour in horses: a review of their development, prevention, management and association with welfare. Equine Veterinary Education, [S.L.], v. 24, n. 9, p. 479-485, 30 ago. 2011. Wiley. http://dx.doi.org/10.1111/j.2042-3292.2011.00296.x.


Meredith L, Ekman R, Brolin K. (2019). Epidemiology of Equestrian Accidents: a Literature Review. The Internet Journal of Allied Health Sciences and Practice. 01;17(1), Article 9.


Thompson, Kirrilly; Mcgreevy, Paul; Mcmanus, Phil (2015). A Critical Review of Horse-Related Risk: A Research Agenda for Safer Mounts, Riders and Equestrian Cultures. Animals, [s.l.], v. 5, n. 3, p.561-575. MDPI AG. http://dx.doi.org/10.3390/ani5030372


EUROGROUP4ANIMALS (2015). Removing the blinkers: the health and welfare of European equidae. Uk: World Horse Welfare. Disponível em:


C. NICOL (1999). Understanding equine stereotypies. , 31(S28), 20–25. doi:10.1111/j.2042-

3306.1999.tb05151.x


VISSER,E. Kathalijne; ELLIS, Andrea D.; VAN REENEN, Cornelis G.. The e ect of two di erent housing conditions on the welfare of young horses stabled for the first time. Applied Animal Behaviour Science, [s.l.], v. 114, n. 3-4, p.521-533, dez. 2008. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.applanim.2008.03.003


MCBRIDE, S.D.; ROBERTS, K.; HEMMINGS, A.J.; NINOMIYA, S.; PARKER, M.O.. The impulsive horse: comparing genetic, physiological and behavioral indicators to those of human addiction.. Physiology & Behavior, [S.L.], v. 254, p. 113896, out. 2022. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.physbeh.2022.113896.


FUREIX, Carole; JEGO, Patrick; HENRY, Séverine; LANSADE, Léa; HAUSBERGER, Martine. Towards an Ethological Animal Model of Depression? A Study on Horses. Plos One, [S.L.], v. 7, n. 6, p. 380-392, 28 jun. 2012. Public Library of Science (PLoS).

 
 
 

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