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Considerações gerais sobre Bem-estar


Estar bem pressupõe um estado de tranquilidade; necessidades supridas e alta qualidade de vida. Parece uma definição simples, mas na prática, manter um estado de bem-estar em ambientes domésticos pode ser desafiador. São inúmeras as variáveis que podem influenciar esse estado. Estas devem ser analisadas com muita cautela e conhecimento, de forma a não menosprezar ou extrapolar o seu verdadeiro sentido. O estado de bem-estar não pode ser categorizado avaliando-se uma única variável. Todas as variáveis importam e devem entrar num balanço geral para, no final, concluir se existe um bom nível de bem-estar ou não; e qual variável precisa ser melhorada ou instaurada. Portanto, o estresse, os estados mentais, físicos e comportamentais dos animais não podem jamais ser avaliados de forma isolada e separados de um contexto (Hausberger, Lerch, Guilbaud, Stomp, Grandgeorge, Henry e Lesimple; 2020). A seguir vamos discutir um pouco mais sobre esses conceitos:


a) Estresse


Considerando que bem-estar é estar bem, ter qualidade de vida, estar tranquilo; podemos afirmar então que o seu antagônico é estar estressado, ter péssimas condições de vida e estar nervoso? Não! Não podemos pensar sobre bem-estar dessa forma, preto no branco. Isso seria muito simples e um tanto pouco realista. Isso porque, mesmo tendo boas condições de vida, em dados momentos, os animais também estão expostos a situações que podem ser percebidas como desagradáveis ou estressantes. O estresse em si não é algo ruim, é natural e fisiológico. Animais em estação reprodutiva por exemplo podem estar mais ansiosos e estressados, mas isso faz parte do contexto. O oposto também pode acontecer.  O animal pode estar em uma situação ruim sem necessariamente demonstrar que está estressado.  Portanto, o estresse não deve ser visto como sinônimo de bem-estar, mas pode ser considerado como um importante indicador deste. (Volpato et al, 2009).


b) Senciência


Quando o termo "bem-estar" surgiu no contexto social humano, seu significado era muito diferente do qual consideramos hoje. No século XVI o bem-estar era a satisfação das necessidades físicas e existenciais (Maggi, 2006). A partir do século XX até os dias atuais vemos que o bem-estar é muito mais do que isso. É a satisfação pessoal, social, emocional; é a busca por um estilo de vida mais saudável e não apenas a ausência momentânea de injúrias ou problemas. Para os animais, as visões de bem-estar também vêm se desenvolvendo mais ou menos nesse sentido.

Na antiguidade até meados do século XIX-XX, predominou-se uma visão antropocêntrica que ignorava as necessidades dos animais não humanos. Mais do que isso, os animais eram basicamente vistos como máquinas à serviço e disposição dos humanos. Essa teoria mecanicista, segundo a linha filosófica de Decartes, justificava o abuso e condições adversas de criação; já que pressupunha que animais não eram capazes de sofrer. No entanto, também existiram muitos movimentos e pensamentos contrários a esta. Desde a antiguidade existiram pessoas que buscavam melhores condições de criação dos animais domésticos. Darwin, ainda no século XIX, já argumentava que os animais eram sencientes e tinham a capacidade, tal como a dos humanos, de expressar emoções, vontades e preferências. No século XIX no Reino Unido surgiram as primeiras leis parlamentares ditando sobre a crueldade e abusos contra animais de produção (bovinos e equídeos). Pouco a pouco, instituíram-se leis em prol a proteção dos animais e condições de criação mais éticas. Em 1976, reconheceu-se a senciência nos animais (Lesimple, 2020).  Na prática esse reconhecimento ainda é alvo de discussão e impasse, já que as pessoas possuem noções e culturas diferentes e subjetivas sobre o argumento. Cada um julga questões como violência, condições de criação e abuso, de forma independente e subjetiva, conforme sua própria concepção ideológica. Esse é um dos motivos pelos quais as mudanças ocorrem tão lentamente e de forma desuniforme. É um longo processo de conscientização e transformação.

Inferir estados emocionais dos animais é uma tarefa que exige conhecimento etológico, percepção dos possíveis motivos que desencadearam dado estado e correlação entre esses fatores. É um compilado de informações referente ao animal, pessoas e ambiente. No entanto, a real dificuldade é justamente evitar a humanização dos animais e/ou subjugação de suas capacidades mentais. Fornecer o que ele realmente necessita, dentro das condições em que se encontra.


REFERÊNCIAS


LESIMPLE, Clémence. Indicators of Horse Welfare: state-of-the-art. Animals, [S.L.], v. 10, n. 2, p. 294, 13 fev. 2020. MDPI AG. http://dx.doi.org/10.3390/ani10020294.


MINERO, Michela; CANALI, Elisabetta. Welfare issues of horses: an overview and practical recommendations. Italian Journal Of Animal Science, [S.L.], v. 8, n. 1, p. 219-230, jan. 2009.


MCGREEVY, Paul; BERGER, Jeannine; BRAUWERE, Nic de; DOHERTY, Orla; HARRISON, Anna;

FIEDLER, Julie; JONES, Claudia; MCDONNELL, Sue; MCLEAN, Andrew; NAKONECHNY, Lindsay. Using the Five Domains Model to Assess the Adverse Impacts of Husbandry, Veterinary, and Equitation Interventions on Horse Welfare. Animals, [S.L.], v. 8, n. 3, p. 41, 18 mar. 2018. MDPI AG. http://dx.doi.org/10.3390/ani8030041.


DAWKINS, M. S. The science of animal su ering. Ethology 114, 937–945 (2008).


GRANDIN, Temple; SHIVLEY, Chelsey. How Farm Animals React and Perceive Stressful

Situations Such As Handling, Restraint, and Transport. Animals, [S.L.], v. 5, n. 4, p. 1233-1251, 1 dez. 2015. MDPI AG. http://dx.doi.org/10.3390/ani5040409.


VOLPATO, G. L., Freitas, E. G. & Castilho, M. F. Insights into the concept of fish welfare. Dis.

Aquat. Organ. 75, 165–171 (2007).


VISSER, E. Kathalijne; ELLIS, Andrea D.; VAN REENEN, Cornelis G.. The e ect of two di erent housing conditions on the welfare of young horses stabled for the first time. Applied Animal Behaviour Science, [S.L.], v. 114, n. 3-4, p. 521-533, dez. 2008. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.applanim.2008.03.003.

 
 
 

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